sábado, 29 de janeiro de 2011

OS VISITANTES DA NOITE VIVEM NA FOSSA



           Uma cidade onde quase toda a vizinhança de qualquer morador sabe informar se ele está em casa, se está no trabalho, se está viajando ou, em nenhuma dessas hipóteses, onde será possível encontrá-lo, não porque sejamos habitualmente fofoqueiros, mas, porque generalizadamente todos se conhecem, se vêem e compartilham de uma rotina de vida como se integrantes de uma só família, é uma constatação assim como outras tantas que, somadas à tradicional hospitalidade dos habitantes e aos  recursos naturais que embelezam nossa geografia,  dão-nos a melhor credencial para recepcionar e interagir com quem nos visita ou aqui aporta para fixar residência temporária ou definitiva.
            Há, entretanto, algumas carências sociais que persistem causando danos crescentes e cada vez mais crônicos, sem que a população seja capaz de entender tamanha incapacidade das sucessivas administrações municipais de solucioná-las,
sobretudo quando o município se vê e é visto em quadro de franca prosperidade. Entre várias outras com a mesma relevância, a falta de água tratada e de esgotamento sanitário  
é uma carência que não se justifica para os moradores dos distritos e muito menos para os habitantes de áreas urbanas da sede do município, como a Vila Norberto e o Jardim da Ponte, onde o que se vê são residências cujos quintais já não comportam mais perfurações para novas fossas.
            Lembro-me da leitura de “1822”, de Laurentino Gomes, que recorda o dito da princesa Leopoldina sobre o Brasil daqueles tempos: “A América portuguesa seria um paraíso terrestre se não houvesse um calor insuportável e muitos mosquitos”, lamentava a esposa de D. Pedro I. Pois na Vila Norberto, onde moro, além do calor que atinge a cidade e do mosquito da dengue que durante o dia nos intimida, os pernilongos não nos dão tranqüilidade para o descanso noturno e um sono reparador de nossas energias, pois infestam as ruas e os lares.
            Pobres de nós moradores destas regiões, a conviver com esses pequeninos moradores das fossas mal tampadas, algumas a vazar detritos pelas ruas. Pobres dos mutuenses cuja água potável da COPASA tornou-se objeto de desconfiança pelas impurezas levadas até as torneiras dos consumidores. Pobres daqueles que nem a água impura que tememos usar aqui na cidade é levada até suas casas nos distritos. Pois é, viva Mutum, esta cidade próspera em que vivemos!

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