quinta-feira, 2 de junho de 2011

QUEM CALA CONSENTE OU QUEM FALA MENTE?

Mantenho o hábito da leitura não apenas pela necessidade de me informar sobre tudo que ainda desconheço, mas também, ou preferencialmente, por significar uma das mais agradáveis possibilidades de lazer. Aprendi nas linhas e nas entrelinhas do conjunto das palavras escritas a distinção entre realidade e fantasia, teoria e prática, omissão e solidariedade.
Ainda criança, pelas ondas do rádio ouvidas em casa e nas ruas das cidadezinhas do interior, complementadas já na adolescência com as imagens alvinegras dos canais de TV, aprendi a importância dos veículos de comunicação eletrônica na difusão de noticiário jornalístico. Assim, lendo, ouvindo e vendo as informações alcançando-me onde eu estivesse, vim até onde estamos hoje: Nada de fato existe ou deixará de existir sem divulgação instantânea.
Não havendo então o que possa ser tratado como novidade a interessar o leitor, resta-me manifestar minhas apreensões sobre o que nos chega a todos, aqui e acolá, Brasil afora, como fatos no mínimo preocupantes para quem, cumprindo sempre seus deveres de cidadão, não quer ser omisso no seu direito de opinar.
Não votei na Dilma no primeiro turno, muito menos no segundo. Mas, votei em uma mulher: Marina Silva. Atitude lógica, por ser filiado ao PV de Mutum? Sim, mas, não a única razão. Por identificar-me com ela na luta em defesa do meio-ambiente, desde que ela era petista e não havia o Partido Verde em minha cidade? Um pouco, sim; não inteiramente. Haveria então algum interesse desses tão comuns em política com p minúsculo, de favorecimento pessoal, uma graninha pelo voto, algo assim? De jeito algum! Votei na Marina porque na balança em que pesavam a seu favor a sua integridade, seu passado, seu presente de correligionária e seu projeto de Brasil havia suficiente espaço para minha esperança, de que tudo poderia ser melhor ao contribuir com meu voto (e meus argumentos durante a campanha) para que o Brasil tivesse uma mulher na presidência da república.
Sou homem, tenho filhos e filhas, que amo igualmente. No convívio social, procuro não ter preconceitos. No meu conceito, são apenas peculiaridades que distinguem homem e mulher e a vida é uma corrida de revezamento entre pares do sexo masculino e feminino. Só que o homem agarrou o bastão no início da corrida, não largou mais e na sua dasabalada correria, procurando vencer obstáculos para a conquista do poder supremo, está cada vez mais abrindo mão dos princípios que deveriam reger a humanidade, impondo à mulher a humilhação de acompanhá-lo, negando-se a entregar-lhe o bastão para que novos valores possam ser estabelecidos pelo sexo feminino e venham dar à corrida mais alegria de viver.
Foi aí que votei na Marina, consciente e cheio de esperança. Ela estava preparada Ocupou cargos legislativos aprovada pelo voto dos eleitores, ocupou com dignidade e compromisso com seu passado e com o futuro do país um relevante cargo executivo, depois lançou-se candidata à presidência como uma mulher à altura do cargo pretendido. A daneira toda é que o bastão estava na mão de Dom Luiz, que armado do poder absoluto decidiu entregá-lo à fiel seguidora Presidenta, com a garantia de que poderia mudar tudo desde que tudo permanecesse como d’antes até sua volta sob retumbante escolta de votos, vencidas suas férias. Houve quem duvidasse que assim seria? Certamente, sim. Então veio a primeira mudança, um novo ministério. Então sentou-se a presidente na cadeira de El Rey, ladeada pelo secretário particular e pelo ministro-chefe da Casa Civil. Com esses novos nomes tão próximos da presidente, de comprovada competência e habilidade na condução da coisa pública, haveria boa governança e todos seriam felizes para sempre até o final da férias de Don Luiz.
Quando as chamas iniciadas no gabinete em que fica o cofre-forte do reino ameaçaram espalhar-se pelo castelo deixando em polvorosa os bombeiros oficiais do poder e os amadores de plantão, eis que Don Luiz sacrificando suas férias retorna garboso e impoluto, retoma o bastão e mostra a todos “quem manda aqui no pedaço”.
O ministro Antonio Palocci está programando alguma coisa para amanhã, como resposta às indagações que o país lhe faz. Seja o que for dito por ele, temo que uma mulher na presidência, colocada como foi a presidenta, joga por terra a minha esperança, que se mantinha mesmo tendo sido voto vencido. Prevaleceu em mim o conceito sobre o homem e a mulher nesse mundo louco, sujo e corrupto em que vivemos. Acreditei que a presidente poderia desempenhar o papel que eu queria ver numa presidente do nosso país. Mas, El Rey mostrou que não. Ou é ele quem manda ou o país desanda. Cabe a ela acompanha-lo. Ele tem o bastão.

Um comentário:

  1. Realmente é preciso ter acesso a variadas fontes de informação e muita sensibilidade crítica para filtrar o que é realidade e o que encenação no palco político. Parabéns pelo belíssimo texto, Olivinho!

    Abç,

    Lígia

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