quarta-feira, 13 de julho de 2011

A PRAÇA É DO POVO.


Só hoje, agora, é que li no Blog do Noblat o artigo abaixo, publicado no jornal O Globo. Também não sei a resposta à indagação do autor e, por julgar ser uergente encontrar a saiba, reproduzo o que li há pouco. Isto porque, cá do meio do mato das Minas Gerais, quero fazer do Papo do Mutum porta-voz da minha indignação.



Política
Por que os brasileiros não reagem?

Juan Arias, O Globo

O fato de que em apenas seis meses de governo a presidente Dilma Rousseff tenha tido que afastar dois ministros importantes, herdados do gabinete de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva (o da Casa Civil da Presidência, Antonio Palocci - uma espécie de primeiro-ministro - e o dos Transportes, Alfredo Nascimento), ambos caídos sob os escombros da corrupção política, tem feito sociólogos se perguntarem por que neste país, onde a impunidade dos políticos corruptos chegou a criar uma verdadeira cultura de que "todos são ladrões" e que "ninguém vai para a prisão", não existe o fenômeno, hoje em moda no mundo, do movimento dos indignados.

Será que os brasileiros não sabem reagir à hipocrisia e à falta de ética de muitos dos que os governam? Não lhes importa que tantos políticos que os representam no governo, no Congresso, nos estados ou nos municípios sejam descarados salteadores do erário público?

É o que se perguntam não poucos analistas e blogueiros políticos.

Nem sequer os jovens, trabalhadores ou estudantes, manifestaram até agora a mínima reação ante a corrupção daqueles que os governam.

Curiosamente, a mais irritada diante do saque às arcas do Estado parece ser a presidente Rousseff, que tem mostrado publicamente seu desgosto pelo "descontrole" atual em áreas do seu governo e tirou literalmente - diz-se que a purga ainda não acabou - dois ministros-chave, com o agravante de que eram herdados do seu antecessor, o popular ex-presidente Lula, que teria pedido que os mantivesse no seu governo.

A imprensa brasileira sugere que Rousseff começou - e o preço que terá que pagar será elevado - a se desfazer de uma certa "herança maldita" de hábitos de corrupção que vêm do passado.

E as pessoas das ruas, por que não fazem eco ressuscitando também aqui o movimento dos indignados? Por que não se mobilizam as redes sociais?

O Brasil, que, motivado pela chamada marcha das Diretas Já (uma campanha política levada a cabo durante os anos 1984 e 1985, na qual se reivindicava o direito de eleger o presidente do país pelo voto direto), se lançou nas ruas contra a ditadura militar para pedir eleições, símbolo da democracia, e também o fez para obrigar o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a deixar a Presidência da República, por causa das acusações de corrupção que pesavam sobre ele, hoje está mudo ante a corrupção.

As únicas causas capazes de levar às ruas até dois milhões de pessoas são a dos homossexuais, a dos seguidores das igrejas evangélicas na celebração a Jesus e a dos que pedem a liberalização da maconha.

Será que os jovens, especialmente, não têm motivos para exigir um Brasil não só mais rico a cada dia ou, pelo menos, menos pobre, mais desenvolvido, com maior força internacional, mas também um Brasil menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo, menos desigual, onde um vereador não ganhe até dez vezes mais que um professor e um deputado cem vezes mais, ou onde um cidadão comum depois de 30 anos de trabalho se aposente com 650 reais (300 euros) e um funcionário público com até 30 mil reais (13 mil euros).

O Brasil será em breve a sexta potência econômica do mundo, mas segue atrás na desigualdade social, na defesa dos direitos humanos, onde a mulher ainda não tem o direito de abortar, o desemprego das pessoas de cor é de até 20%, frente a 6% dos brancos, e a polícia é uma das que mais matam no mundo.

Há quem atribua a apatia dos jovens em ser protagonistas de uma renovação ética no país ao fato de que uma propaganda bem articulada os teria convencido de que o Brasil é hoje invejado por meio mundo, e o é em outros aspectos.

E que a retirada da pobreza de 30 milhões de cidadãos lhes teria feito acreditar que tudo vai bem, sem entender que um cidadão de classe média europeia equivale ainda hoje a um brasileiro rico.

Outros atribuem o fato à tese de que os brasileiros são gente pacífica, pouco dada aos protestos, que gostam de viver felizes com o muito ou o pouco que têm e que trabalham para viver em vez de viver para trabalhar.

Tudo isso também é certo, mas não explica que num mundo globalizado - onde hoje se conhece instantaneamente tudo o que ocorre no planeta, começando pelos movimentos de protesto de milhões de jovens que pedem democracia ou a acusam de estar degenerada - os brasileiros não lutem para que o país, além de enriquecer, seja também mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.

Este Brasil, com o qual os honestos sonham deixar como herança a seus filhos e que - também é certo - é ainda um país onde sua gente não perdeu o gosto de desfrutar o que possui, seria um lugar ainda melhor se surgisse um movimento de indignados capaz de limpá-lo das escórias de corrupção que abraçam hoje todas as esferas do poder.



Juan Arias é correspondente do El Pais no Brasil
Política
Por que os brasileiros não reagem?

Juan Arias, O Globo

O fato de que em apenas seis meses de governo a presidente Dilma Rousseff tenha tido que afastar dois ministros importantes, herdados do gabinete de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva (o da Casa Civil da Presidência, Antonio Palocci - uma espécie de primeiro-ministro - e o dos Transportes, Alfredo Nascimento), ambos caídos sob os escombros da corrupção política, tem feito sociólogos se perguntarem por que neste país, onde a impunidade dos políticos corruptos chegou a criar uma verdadeira cultura de que "todos são ladrões" e que "ninguém vai para a prisão", não existe o fenômeno, hoje em moda no mundo, do movimento dos indignados.

Será que os brasileiros não sabem reagir à hipocrisia e à falta de ética de muitos dos que os governam? Não lhes importa que tantos políticos que os representam no governo, no Congresso, nos estados ou nos municípios sejam descarados salteadores do erário público?

É o que se perguntam não poucos analistas e blogueiros políticos.

Nem sequer os jovens, trabalhadores ou estudantes, manifestaram até agora a mínima reação ante a corrupção daqueles que os governam.

Curiosamente, a mais irritada diante do saque às arcas do Estado parece ser a presidente Rousseff, que tem mostrado publicamente seu desgosto pelo "descontrole" atual em áreas do seu governo e tirou literalmente - diz-se que a purga ainda não acabou - dois ministros-chave, com o agravante de que eram herdados do seu antecessor, o popular ex-presidente Lula, que teria pedido que os mantivesse no seu governo.

A imprensa brasileira sugere que Rousseff começou - e o preço que terá que pagar será elevado - a se desfazer de uma certa "herança maldita" de hábitos de corrupção que vêm do passado.

E as pessoas das ruas, por que não fazem eco ressuscitando também aqui o movimento dos indignados? Por que não se mobilizam as redes sociais?

O Brasil, que, motivado pela chamada marcha das Diretas Já (uma campanha política levada a cabo durante os anos 1984 e 1985, na qual se reivindicava o direito de eleger o presidente do país pelo voto direto), se lançou nas ruas contra a ditadura militar para pedir eleições, símbolo da democracia, e também o fez para obrigar o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a deixar a Presidência da República, por causa das acusações de corrupção que pesavam sobre ele, hoje está mudo ante a corrupção.

As únicas causas capazes de levar às ruas até dois milhões de pessoas são a dos homossexuais, a dos seguidores das igrejas evangélicas na celebração a Jesus e a dos que pedem a liberalização da maconha.

Será que os jovens, especialmente, não têm motivos para exigir um Brasil não só mais rico a cada dia ou, pelo menos, menos pobre, mais desenvolvido, com maior força internacional, mas também um Brasil menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo, menos desigual, onde um vereador não ganhe até dez vezes mais que um professor e um deputado cem vezes mais, ou onde um cidadão comum depois de 30 anos de trabalho se aposente com 650 reais (300 euros) e um funcionário público com até 30 mil reais (13 mil euros).

O Brasil será em breve a sexta potência econômica do mundo, mas segue atrás na desigualdade social, na defesa dos direitos humanos, onde a mulher ainda não tem o direito de abortar, o desemprego das pessoas de cor é de até 20%, frente a 6% dos brancos, e a polícia é uma das que mais matam no mundo.

Há quem atribua a apatia dos jovens em ser protagonistas de uma renovação ética no país ao fato de que uma propaganda bem articulada os teria convencido de que o Brasil é hoje invejado por meio mundo, e o é em outros aspectos.

E que a retirada da pobreza de 30 milhões de cidadãos lhes teria feito acreditar que tudo vai bem, sem entender que um cidadão de classe média europeia equivale ainda hoje a um brasileiro rico.

Outros atribuem o fato à tese de que os brasileiros são gente pacífica, pouco dada aos protestos, que gostam de viver felizes com o muito ou o pouco que têm e que trabalham para viver em vez de viver para trabalhar.

Tudo isso também é certo, mas não explica que num mundo globalizado - onde hoje se conhece instantaneamente tudo o que ocorre no planeta, começando pelos movimentos de protesto de milhões de jovens que pedem democracia ou a acusam de estar degenerada - os brasileiros não lutem para que o país, além de enriquecer, seja também mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.

Este Brasil, com o qual os honestos sonham deixar como herança a seus filhos e que - também é certo - é ainda um país onde sua gente não perdeu o gosto de desfrutar o que possui, seria um lugar ainda melhor se surgisse um movimento de indignados capaz de limpá-lo das escórias de corrupção que abraçam hoje todas as esferas do poder.



Juan Arias é correspondente do El Pais no Brasil

domingo, 10 de julho de 2011

MUTUM? FICA LOGO ALÍ, ATRÁS DA PEDRA

 
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UMA NO CRAVO, UMA NA FERRADURA

Ausente há exatamente um mês, volto agora sem saber qual poderia ser o melhor assunto para abordar neste Papo do Mutum com meus dois ou três prováveis leitores.
Talvez repercutir modestamente, mas, com meu direito de cidadão cada dia mais indignado, o naufrágio moral do país no mar de corrupção em que navegam homens e mulheres do poder, pelas turbulências crescentes a prenunciar um verdadeiro tsuname que, aqui do meu ponto de vista em terra que quero crer ainda firme, só será contido quando nossas ruas e praças estamparem mundo afora imagens e vozes como as que nos chegam pelas mídias de comunicação social de além-mar.
Podendo haver, entre os leitores que suponho ter, um ou outro mutuense interessado pelos assuntos de nossa terrinha, a dúvida seria eu escolher o que abordar, pois novidades há, algumas merecedoras de nosso aplauso e outras, de crítica. Não sei, por exemplo, se falo das 60 casas populares a modificar a paisagem à margem do asfalto, no início do perímetro urbano, ou das ruas que reduzem a poeira e os buracos com o calçamento que estão recebendo, obras que ao serem concluídas em breve tornarão mais bonita a região da Vila Norberto. Penso, porém, como morador desta mesma Vila Norberto, que o calçamento irá arrefecer em muito o nosso banho diário de poeira, eliminar o lamaçal deixado pelas chuvas, mas, não estará enterrando de vez o sonho dos moradores de ter debaixo da terra as redes de esgotamento sanitário e pluvial que indiscutivelmente são em conjunto a obra prioritária para crianças, adultos e idosos, porque de saneamento básico e consequentemente de promoção da saúde de todos?
Outra construção em fase de acabamento é a vistosa quadra poliesportiva, no centro da cidade, cujos benefícios serão inúmeros para a população mutuense, essa mesma população que é hoje convidada a participar de uma inevitável campanha de solidariedade à Confraria de São Vicente de Paulo, que comemora 80 anos de vida no dia 24 de agosto, para superar a crise financeira e continuar, como entidade de utilidade pública, a prestar os serviços de saúde através do Hospital São Vicente de Paulo por ela mantido.
Mais uma etapa de obras na Praça de Eventos “João Costa Oliveira”, que abrigará a XXVII Expo Mutum, de 20 a 24 deste mês, é motivo de alegria do mutuense por se tornar a cada ano mais adequada e atraente para que a população continue a dar mostras de sua hospitalidade recebendo pacatamente milhares de visitantes. Pena que haja a contrapartida da tristeza da população pela carência de ações voltadas para suas necessidades básicas, sobretudo da promoção da saúde. Se você é um daqueles poucos com quem penso estar falando no Papo do Mutum, vê se não é caso de saúde pública a cidade estar infestada de ratos. Se Brasília é exemplo de concentração de roedores bípedes, Mutum o é dos pequenininhos quadrúpedes. Providência que é boa para combatê-los, houve ou, quando haverá?

O POVO NA PRAÇA: QUANDO?

 
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sexta-feira, 10 de junho de 2011

LIÇÃO DE PORNOPOLÍTICA


‘Lição de pornopolítica’, por Nelson Motta

ARTIGO PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA SEXTA-FEIRA

Nelson Motta

“Quando atacam um companheiro nosso, temos que defendê-lo. Nem que depois a gente o chame num canto e diga que ele está errado.”

A frase poderia ser de um chefão mafioso para a quadrilha, ou de um lobo para a matilha, mas é a mais perfeita expressão do conceito lulista de ética, que se aplica tanto a Delúbio e Zé Dirceu como a Sarney, Renan e Severino.

Claro que depois Lula os chamou num canto e disse que eles estavam errados, nós sabemos como Lula é rigoroso. Na ética companheira o mais importante não é fazer errado, é não ser flagrado. Falar com a língua presa não é nada, o problema é ter preso o rabo.

Assim como os livros do MEC ensinam que 10 – 7 = 4, e que falar errado é só um preconceito linguístico, o lulismo trouxe conceitos éticos inovadores, como o que aceita o roubo e a corrupção, desde que seja para o partido. Mas, se for em causa própria, basta chamar o partido para defender o companheiro e salvá-lo da cadeia. Depois será chamado de lado para ouvir que estava errado.

No Brasil pós-Lula ninguém se envergonha de ser eleito para defender os interesses do País e dos seus eleitores ─ e também dar consultas para empresas privadas que só têm interesse em seus lucros.

Mas não é ilegal, gritam. É apenas imoral. Em países sérios seria, mas aqui nunca será, porque os deputados jamais vão legislar contra seus próprios interesses. É só uma afronta a homens e mulheres honestos que lutam para ganhar a vida e pagar impostos para sustentar essa gentalha. O traficante de influência é pior do que o de drogas, porque vende o que não lhe pertence.

Mesmo assim eles não conseguem viver com o salário de R$ 25 mil ─ maior do que o de parlamentares americanos e japoneses ─ e por isso precisam manter outro emprego, como Palocci e outros “consultores”. São deputados part time, que servem mais a seus clientes do que ao País.

Com todo respeito pela minoria que ainda resiste, atualmente a deputança parece apenas uma boquinha meio período, um trampolim para subir na vida e nivelar por baixo. Como diz a velha piada, mais atual do que nunca, eles estão fazendo na vida pública o que fazem na privada.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

DA VIDA PÚBLICA À PRIVADA

Só mesmo os institutos de pesquisa para afirmar quem alcançou maior ibope no noticiário de ontem: o que em 17 anos viveu todas as amarguras e alegrias de ídolo em todo o mundo, ao comemorar sua despedida como atleta fenomenal nos campos de futebol,levando consigo invejável patrimônio de conquistas esportivas, ou aquele que tornou-se também fenômeno pelo dom da ubiquidade, a ele propiciadora do recorde de tempo para o troféu do enriquecimento material, prêmio no seu caso controverso sob aspecto da ampliação do patrimônio moral dos homens de vida pública.
A partir de hoje, a repercussão da aposentadoria de Ronaldo Nazário, do futebol, e de Antonio Palocci, do poder executivo do país. Saem ambos, por sua trajetória, capazes de obter do eleitorado expressiva votação para cargos públicos
futuros. Como também o ladrão de galinha, da fábula que transcrevo do blog da Maria Helena Rubinato Borges, cuja autoria parece ser de Luiz Fernando Veríssimo. Bela, fabulosa.


O Brasil explicado em galinhas

Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e o levaram para a delegacia.

D - Delegado
L - Ladrão

D - Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!

L - Não era para mim, não. Era para vender.

D - Pior, venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!

L - Mas eu vendia mais caro.

D - Mais caro?

L - Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.

D - Mas eram as mesmas galinhas, safado.

L - Os ovos das minhas eu pintava.

D - Que grande pilantra... (mas já havia um certo respeito no tom do delegado...) . Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...

L - Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiros a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio..

D - E o que você faz com o lucro do seu negócio?

L - Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.

O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:

D - Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?

L - Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.

D - E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?

L - Às vezes. Sabe como é.

D - Não sei não, excelência. Me explique.

L - É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora fui preso, finalmente vou para a cadeia. É uma experiência nova.

D - O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.

L - Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!

D - Sim. Mas primário, e com esses antecedentes...

terça-feira, 7 de junho de 2011

SOCORRO: O BANCO QUER ME ROUBAR!

O sistema bancário cobra para manutenção de minha conta-corrente, além de cobrar pela maioria dos serviços prestados na movimentação do dinheiro que eu guardo na agência, não porque está sobrando, mas, para que eu possa deixá-lo em lugar seguro e utiliza-lo de acordo com minhas necessidades ou conveniências. A evolução tecnológica colocou aomeu alcance, para essas operações, o caixa eletrônico, de grande comodidade pela ampliação do horário de atendimento, embora implantando com o serviço mais uma fila para ao desconforto do cliente. Teoricamente é assim que funciona para todos os correntistas. Na prática, entretanto, temos a comprovação de que embora sejamos todos iguais perante a Lei, também na agência há os ilustres clientes diferenciados – porque montados na grana – que invariavelmente são atendidos sem fila, pois, quando existentes são por eles furadas descaradamente; os “boys” com seus envelopes e pastas, e os clientes que por diferentes razões dependem dos serviços humanos dos vários caixas e guichês para o atendimento, nem todos porém com disponibilidade de funcionários, como quase sempre ocorre com aquele encimado por um aviso: “Exclusivo para maiores de 60 anos, gestantes, portadores de deficiência...”, algo assim. Esta é a agência dos que ultrapassam a porta giratória.
Os caixas eletrônicos, no amplo salão de fácil acesso a todos, são utilizados pela maioria dos correntistas que vão à agência para retirada ou depósito de valores e para pagamentos de boletos que disponibilizam código de barra (outra invenção brilhante dos sistema financeiro, resultante da TI). É aí que vamos nós, os menos iguais, para quitar os compromissos, como por exemplos as contas de água, luz, telefone e as prestações que asseguram “o nome limpo na praça”. É só a gente ter o cartão contratado junto ao banco e uma senha, para que o nosso dinheirinho possa pingar em nossas mãos, de acordo com necessidades ou conveniências, desde que tenha sido depositado em nossa conta-corrente. Entre esses cidadãos menos iguais, talvez a maioria absoluta vá ao caixa eletrônico retirar o que recebe do empregador ao fim de mais um mês de trabalho, ou de aposentadoria do INSS.
Quem abastece o caixa eletrônico, para que ele nos devolva o que é nosso? Lógico que é alguém que trabalha na agência. Aliás, a máquina não passa de um funcionário, talvez mais infalível e econômico. Se eu vou retirar o que é meu e está guardado na agência bancária, e estou adimplente com o que me cobram pelo serviço, quero mais é que me respeitem. Dispenso o cafezinho da gerência, aceito e fila como inevitável e vejo como aprimoramento na prestação de serviços o caixa eletrônico. Acho péssimo, porém, chegar numa tarde de 6ª feira, na véspera de um feriado, ou qualquer dia à agência para, por necessidade ou conveniência, sacar o que é meu e a máquina estar sem grana. O que dizer agora, com essa história de tinta vermelha para identificar notas roubadas? Se a nota saiu do caixa eletrônico, quem pôs foi o banco. Ela vai ter de valer, para mim e qualquer correntista que comprovar o saque. Senão, quem está nos roubando é o banco.

domingo, 5 de junho de 2011

ENTRE ELES, A ÉTICA É UM ABISMO

                     O texto abaixo é do conhecido jornalista Élio Gáspari, que acabo de ler noBlog do Noblat.
Sua leitura é de fundamental contribuição para entendermos o quão diferentes podem ser os homens públicos, se compararmos os que hoje detêm o poder e aqueles que ontem ocuparam os mesmos cargos procurando contribuir para o engrandecimento da pátria de todos nós. 

De CelsoFurtado@org para Palocci@com

Senhor ministro, sua geração leu meu livro “Formação econômica do Brasil” procurando entender nosso país, pensando em mudá-lo para melhor. Não creio que meus leitores buscassem lições para enriquecer. Seria perda de tempo. Havia neles uma mistura de fé na nossa gente e até de solidariedade pela fantasia desfeita de um economista que foi do Ministério do Planejamento, em 1962, ao desterro voluntário, dois anos depois.
Escrevo-lhe para pedir que tire das costas do governo a carga de problemas que são seus, derivados daquilo que chamei, referindo-me ao Roberto Campos, de “temperamento concupiscente”.
A cobiça por bens materiais é coisa natural. Quando ela se mistura com biografias públicas, é comum que surjam conflitos políticos. Vivi 84 anos, fui ministro de dois governos e embaixador junto à Comunidade Europeia, publiquei cerca de 50 livros, um deles com 34 edições. Nunca me faltou o necessário. Acusaram-me de muita coisa, jamais de ter comprado um par de meias sem que pudesse tornar pública a origem dos recursos.
Morri num apartamento de Copacabana, com padrão suficiente para meus hábitos, bastante inferior ao que o senhor comprou por R$ 6,6 milhões. (Jantei outro dia com os ex-ministros Roberto Campos, Eugenio Gudin e Octavio Gouvêa de Bulhões. O Campos, com sua corrosiva maledicência, disse que as moradias dos comensais, somadas, não cobrem o preço da sua).
Os discípulos dos meus colegas de jantar seguiram outro caminho. Depois que retornei ao Brasil, vi como se fizeram rápidas fortunas, mas vi também como se deixaram de fazê-las. O serviço público nada rendeu à minha querida Maria da Conceição Tavares, ou ao Carlos Lessa.
Talvez sejamos uma espécie em extinção. Gente que gosta de relembrar e seguir a lição que ouvi do Raul Prebisch, o grande economista argentino. Depois de presidir o Banco Central do seu país, viu que ficara “sem meio de vida”. Convidado para a direção de grandes bancos, recusou: “Como podia colocar os meus conhecimentos a serviço de um se estava ao corrente dos segredos de todos?”
O senhor privatizou sua influência e justificou a própria concupiscência invertendo o dilema de Prebisch. Foi uma escolha pessoal, e Don Raul admite que está no seu direito fazê-la. Não estatize os reflexos de sua opção patrimonial, transferindo o ônus para um governo eleito por 55 milhões de pessoas.
Do seu patrício, Celso Furtado

Elio Gaspari, O Globo

sábado, 4 de junho de 2011

ESPELHO, ESPELHO MEU, O TRONO É OU NÃO É MEU?


Escritos antes das eleições do ano passado, os versos abaixo foram publicados no Papo do Mutum em janeiro, mas, não sei por que, me deu agora uma vontade danada de republicá-los:

GRACIAS A EL REY LUIZ

Doar a quem esta herança maldita
Que transformei no olimpo
Enquanto garimpei o ouro
Que dos meus bolsos transborda
E esparrama migalhas luzentes
Que não apontam futuro
Para quem é maltratado
Por falta de educação
Saúde, saneamento
Formando um a um multidão
De tantos milhões de gentes
Que não nasceram meus filhos
Mas a quem eu dou guarida
Desde que estendam a mão?

Sejam gratos, confiantes
Que faço o melhor que posso
Tirando dos companheiros
Que me sustentam no trono
- Esta gente honesta, honrada
Exemplo de brasileiros
Que não nega a cada irmão
(no sentido figurado)
As sobras do ouro embolsado
Sem qualquer corrupção.

Falo claro, jogo limpo
Pois neste país nunca antes
Sob o estelar firmamento
Neste reinado que é meu
Nesta terra tão bendita
Houve tantos brasileiros
Que da pobreza saíram
Embora a oposição
Venha com toda essa grita
E só pra fazer baderna
Diz que é pura enganação
De quem a todos governa.

Assim esta herança maldita
Que transformei no olimpo
Será de quem eu quiser
No meu trono aqui sentar
Desde que bom companheiro
Ou companheira mulher
Para falar “sim Senhor”
Conforme eu comandar.

Não posso deixar de ser dono
Do poder que construí
Seria um tropeço no escuro
ver todo o ouro roubado
Ao povo não mais chegar
Pelas migalhas do engodo

Por isso não abro mão
Meu Deus do céu quem diria
De pôr na minha cadeira
e ensinar o que aprendi
para me representar
Uma mulher, minha cria
Que cuide do meu reinado
Defenda os companheiros
E me devolva no futuro
Este olimpo abençoado
Que fiz com herança maldita

Ninguém me empurra no lodo
Viva os pobres brasileiros!